Quero contar um pouco das experiências vividas por personagens fictícios criados por minha fértil imaginação. O primeiro conto é algo no qual tenho que me centrar e resumi-lo para maximizar a ideia do ocorrido:
Dois engenheiros estavam a trabalho na Ciudad del Este, que é uma cidade Paraguaia responsável por metade do PIB daquele país, além de ser cheia de atrativos, onde tudo era muito barato e a moeda dominante era o dólar. Os linguajares eram os mais cômicos: aquela mistura de português com Guarani que fica muito engraçada.
Acreditem senhores, esses dois homens se perdiam com tanta facilidade que era inacreditável. Havia algumas galerias com nomes estranhos como Lai Lai, Master10 e Nave Informática, o que fazia com que eles ficassem rodando igual a duas baratas tontas no meio daquela multidão, como dois muambeiros sedentos por lucros no Brasil, já que esses engenheiros não foram ao Paraguai apenas para prestar seus serviços, mas queriam faturar algum com o preço baixo do dólar.
Com alguns cálculos, dava para faturar muito dinheiro “importando” alguns produtos eletrônicos. Então, após fazer toda aquela pechincha básica com os chineses e os santos árabes, os dois amigos saíram às compras, igual dois desvairados e acharam (sonharam será?) que iriam conseguir atravessar a “Ponte da Inimizade” com 16 produtos eletrônicos iguais – ou eram 15? – Quer saber? A história é meio complicada, pois a compra foi feita em dólar.
O lucro seria grande se comparado à moeda brasileira. O interessante era que toda a venda desses produtos eletrônicos seria realizada pelo Mercado Livre, um sistema seguro de compra e venda de produtos via internet onde não existem leis fiscais.
Mas o melhor da história ainda está por vir. O comércio paraguaio estava fechando no dia em que esses engenheiros estavam parecendo dois contrabandistas achando que passariam despercebidos pela alfândega brasileira com 14 (eu falei 15?) produtos iguais, sendo que a cota limite é um (sim, somente um!) produto eletrônico por pessoa, independente da espécie, grau, gênero, sexo, idade ou religião que fosse. Assim sendo, eles foram abordados por um Fiscal Federal extremamente simpático que perguntou:
Fiscal: – Senhores cadê a declaração dos produtos?
Engenheiros: – Aqui está senhor.
Ali, naquela declaração que os dois tinham, foi feita algumas alterações quase imperceptíveis (juro!) ao olhar cego de um Fiscal que sentia o cheiro de muambeiros inexperientes a quilômetros. Ali, eles sentiram um friozinho na espinha…
Engenheiro 1: – Será que vamos ser presos por contrabando?
Engenheiro 2: – Calma, calma cara, a gente resolve isso rapidinho é só conversar. Qualquer coisa eu ligo para o meu pai que é fiscal também e tentamos resolver isso de forma civilizada.
Chega ao local o auxiliar do fiscal:
Engenheiro 1, tremendo e choramingando, falando para o auxiliar do fiscal Caxias: – A gente deixa os produtos com vocês não tem problema, eu só quero ir embora…
Auxiliar do Fiscal: – Calma gente, vocês só tem que ir até o matadouro (?) onde os fiscais farão a confiscação dos produtos e vocês assinam uma espécie de boletim de ocorrência, para notificar que vocês já fizeram essa atividade ilegal.
Imaginem que cena hilária. Um fiscal perguntando para você: cadê o produto x? Você mostra o produto e: cadê o produto y? Você mostra o mesmo produto e: cadê o produto z? Tudo de novo.
A frustração do agente é tamanha que ele pede gentilmente que os engenheiros sejam transferidos para o matadouro – vulgo sala do prejuízo total – pois ali, os mesmos estão infringindo as leis brasileiras e teriam que ser tratados ao rigor da lei.
E assim eles perderam alguns dólares (e muitos reais!). Aquilo, para eles, foi tão deprimente que parecia que alguém tinha morrido. Nem fome mais aqueles pobres coitados tinham, tamanha era a decepção.
Mas, naquele dia o que valeu mesmo para eles foi a experiência. O lucro seria legal? Nossa seria ótimo! Os sócios daquela empreitada faturariam lucros exorbitantes, maiores que suas humildes remunerações mensais. Hoje em dia, eles se orgulham contando essa história, pois assim, vão poder dizer que são engenheiros sim e um dia quase conseguiram ser engenheiros muambeiros.
Quem topa uma aventura como a desses dois? Perdidos, encantados com as enormes lojas coloridas, com o sotaque das lindas paraguaias persuasivas, mas, sem esperar que em sua terra natal (Brasil) a lei seria tão rígida.
Como já dizia a mãe de um desses engenheiros: “Esmola demais, o santo desconfia”
Mas valeu a experiência, a aventura foi um bate-volta de 24 horas, de pura emoção do começo ao fim. Ônibus, alegria, comes e bebes nas rodoviárias e cansaço extremo, bem como o sentimento de luto por ter perdido alguns reais.
Acho que esses engenheiros até encarariam uma nova aventura dessas, mas agora como meros turistas. Visitar as belezas de Foz do Iguaçu, conhecer os encantos das gigantes turbinas da hidroelétrica Itaipu Binacional e se deslumbrar com a famosa garganta do diabo e outros feitiços dessa cidade paradisíaca, repleta de diversidade cultural.
Entretanto o destino é sábio e deu a esses meninos uma grandiosa lição com toda essa confusão: a ganância, às vezes, pode ser perigosa, pode ser enganadora e levar você a perder alguns trocados. Porém, a amizade pode ser forte e indispensável, o que certamente o levará a sempre se divertir.
Alguém aí quer ir para Ciudad del Este? Comprar uns iPhones?
Autor: Gustavo Rugila
OBS: Aos meus queridos leitores, peço as mais sinceras desculpas. Estou tentando mudar um pouco o foco dos meus textos e trazer para vocês um pouco das novidades de um jovem escritor que é desajeitado com as palavras. Deixo os meus cumprimentos para aqueles que conseguirem ler e tirar algum proveito dessa quase crônica dos engenheiros muambeiros.